Gostaria de parabenizar as organizações promotoras da iniciativa, pelo alto nível do debate. Achei o trabalho da Eliane muito rico e profundo, requerendo uma leitura bastante atenta.
A riqueza dos enfoques apresentados neste estudo, assim como as linhas teórico/práticas levantadas na “Oficina preliminar” poderiam sugerir cautela em apresentar um ulterior ponto de vista.
Porém, acredito que algo de interessante poderia se achar em uma linha de pesquisa, bem brasileira, que, a partir do final da década passada, se debruça sobre impactos dos assentamentos rurais. Estes últimos são, sem sombra de dúvidas, algo de bem diferente das áreas protegidas (apesar do que, administrativamente, as duas entidades às vezes se sobrepõem). Porém, ambos põem a questão da (re)-criação de um universo social, na dialética entre ação da população e do Estado, na relação recíproca e na relação com os mediadores.
Um outro ponto crítico bem interessante que ambos compartilham é que «a trajetoria dos projetos […] sempre recolo[ca] a questão da legitimidade deste tipo de intervenção» no quadro da sociedade como um todo (Medeiros, Leite, 2004, p. 19).
A partir deste mesmo estudo, síntese de uma pesquisa que significativamente chamava-se Os impactos regionais dos assentamentos rurais: dimensões econômicas, políticas e sociais, podemos, ao meu ver, trazer algumas sugestões que, mesmo não tendo aplicação diretas na criação de um delineamento de princípios e diretrizes teóricas e metodológicas para uma “análise dos impactos sociais” das APs, pode fomentar algumas reflexões a respeito deste delineamento.
Entre outros, destacaria estas sugestões:
– o entendimento do universo (aqui de APs, lá de assentamentos) como ponto de chegada, e, ao mesmo tempo, ponto de partida de uma dinâmica social (e também econômica, política, ambiental);
– o recorte regional (que poderia ser re-definido de territorial), que ao mesmo tempo supera a categoria do entorno, colocando a AP dentro de uma mais ampla dinâmica local, porém qualificada pelas relações sociais (econômicas, políticas, ecológicas) que os insiders entretêm com os outsiders;
– as três dimensões consideradas na avaliação dos impactos: a) comparação da situação das populações incluídas em APs (aqui, lá assentamentos) antes e depois da criação da AP; b) comparação da situação das populações incluídas em APs com as de fora; c) “análise dos efeitos observados nos níveis locais e regionais cuja origem deve-se, primordialmente, à implantação dos projetos de assentamentos” (Medeiros, Leite, 2004, p. 25).
Artigo postado no blog Análise de Impactos Sociais de Áreas Protegidas.
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Leonilde Sérvolo de Medeiros, Sérgio Leite, Assentamentos rurais: mudança social e dinâmica regional, Mauad, Rio de Janeiro 2004
Luca Fanelli
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