A sessão Quilombos e maroons das Américas: espelho das diferenças, realizada no XXXVII Congresso Internacional de Americanística foi muito interessante. As contribuições dos panelists foram bem diferenciadas e se completaram. Elas coloram em luz diferentes aspectos do assunto, com diferentes enfoques e métodos.
Resumo aqui algumas das questões mais interessantes que se manifestaram durante a sessão. Esses pontos são tirados das falas dos panelist, mas o que segue é uma minha reinterpretação pessoal. Portanto não expressa a opinião ou o ponto de vista dos panelist 1.
1) A atuação do Governo brasileiro com respeito à questão quilombola é insuficiente: o processo de reconhecimento é demais longo, muitos poucos quilombos receberam o titulo da terra do momento isso se tornou lei (três dos quatro paper foram sobre quilombos brasileiros; este ponto refere-se à realidade brasileira, enquanto os outros também aos quilombos dos outros países da América Latina) 2.
2) Os povos que se reconhecem como índio ou quilombola, ou um dos diferentes “povos tradicionais” não sentem de caber estritamente em uma dessas categorias (como definido pela lei e reforçado por alguns pesquisadores). De fato, historicamente e hoje em dia, acontece uma circulação entre estas diferentes categorias e muitas pessoas acham de pertencer a mais de uma dessas. Isso não significa que estas categorias são insignificantes ou forjadas, mas que seria útil, seja nas politicas que na pesquisa, ter em conta os limites permeáveis e o interlaçamento entre estes conjuntos.
3) O dialogo entre a pesquisa sobre quilombos históricos e contemporâneos pode iluminar ambos os campos. Isso não acontece na forma mais obvia, ou seja encontrar as raízes históricas dos quilombos contemporâneos, já que, na maioria das vezes, os rastros dos antigos quilombos foram deletados pela expulsão e as migrações. Pelo contrário, a relação entre os dois campos pode se concentrar na comparação: de fato, muitas questões relevantes para os quilombos históricos as são também para os contemporâneos; é o caso, por exemplo, da relação de conflito e inter-relação com os povos indígenas.
4) A relação entre quilombola e movimento negro é complexa. Boa parte dos quilombolas não se identificam com o movimento negro – ou o conhecem apenas; ao mesmo tempo o movimento negro, apesar de reconhecer os quilombolas as parte de uma raiz comum, não concorda com a “moderação” politica de muitos deles e a não identificação com alguns padrões culturais da tradição afro.
- Uma parte ou todos os paper apresentados serão publicados nos anais do Congresso. ↩
- O novo governo, chefiado pelo presidente interino Michel Temer, será muito provavelmente pior neste respeito do que os anteriores. Por exemplo, os assuntos quilombolas são de responsabilidade do Ministério da Cultura, tendo menos relevância daquela garantida por ficar na responsabilidade do Instituto Nacional de Colonizaçao Agraria; o ministro da cultura é o José Mendonça Bezerra Filho, do partido DEM, tradicionalmente contrario ao reconhecimento das terras de quilombo. Além disso, o novo governo eliminou o Ministério das Mulheres, da Igualda racial e dos Direitos Humanos. ↩